quinta-feira, 28 de maio de 2015

O culto como elemento cultural

Por: Anderson Borges


Os estudos da Antropologia revelam que o homem, desde os tempos mais remotos, tem revelado uma necessidade natural de cultuar algo ou alguém. Tais revelações têm demonstrado que o homem é religioso por natureza e deve ter algum alvo de culto. A história antiga nos aponta as diversas oportunidades em que o homem tem se envolvido em rituais supersticiosos e sacrifícios dedicados a algo ou a alguém de caráter transcendental. Os povos pagãos se curvavam diante de imagens de madeira ou de pedra, acreditando, com isso, que obteriam benefícios transcendentais ou afastariam maldições, pragas e outros malefícios. O Rev. Carlos Fernandes explica que:

O culto é um fenômeno multireligioso e multicultural. Em outras palavras, está presente em todas as culturas, de todos os tempos e lugares e, por isso, em toda e qualquer religião que se possa descrever. Claro que tal variedade traz a todos uma séria dificuldade do correto entendimento quando estamos pensando sobre o Culto Cristão. Admite-se, geralmente, que um culto tem por finalidade estabelecer, mediante ritos, dogmas e símbolos, relações entre os seres humanos e a(s) divindade(s). Quer por magia, sacrifício, orações ou outros meios, imagina-se que um culto deva criar, entre o mundo dos deuses e o mundo dos seres humanos, um intercâmbio proveitoso para ambos. (FERNANDES, 2011).

Partindo deste ponto de vista, o culto seria uma espécie de fonte de revitalização e felicidade, quer para deus(es) quer para seres humanos. É claro que tal modo de entender o culto é profundamente pagão e contrário ao princípio fundamental do Culto na Bíblia.

Desta forma podemos entender que o culto além de fazer parte da cultura da humanidade desde os tempos mais antigos, ele também é o momento onde o ser humano entra em contato com a divindade através de rituais e/ou oferendas, e que como conseqüência deste ato, a divindade cultuada retribui tanto espiritualmente quanto materialmente aquele que a cultua. Mas, como os antigos poderiam saber da existência de um Deus ou de alguém que estava no controle das coisas, e que eles poderiam de alguma forma receber algum benefício deste Deus? Pois, quem cultua, deve estar consciente de que existe alguém para receber as homenagens prestadas. Disso podemos entender que o homem tem em si mesmo a idéia de Deus na sua mente, como afirma Louis Berckof:

Os estudiosos de religiões comparadas e os missionários freqüentemente dão testemunho do fato de que a idéia de Deus é praticamente universal na raça humana. É encontrada até mesmo entre as mais atrasadas nações e tribos do mundo... como acima foi dito, há forte prova da presença universal da idéia de Deus na mente humana, mesmo entre as tribos não civilizadas e que não tem recebido o impacto da revelação especial. Em vista deste fato, alguns chegam a negar a existência de pessoas que negam a existência de Deus, que haja verdadeiros ateus... (BERCKOF, 2007).

Assim entendemos que todas as pessoas têm uma noção de Deus em sua mente, noção esta que na maioria das vezes está bem distante da realidade de quem Deus é, mas que leva o ser humano a cultuar e a devotar-se aos bens materiais, prazeres, sexo, poder ou até ele mesmo. Todos os seres humanos cultuam. Isso está na sua essência, foram criados para isso.

O culto está presente na vida da sociedade desde o princípio da humanidade, independente da linha histórica que se adote, seja ela Criacionista Bíblica ou Evolucionista. Louis Berckof explica que:

Entre todos os povos e tribos da terra há um sentimento religioso que se revela em cultos exteriores. Visto que o fenômeno é universal, deve pertencer à própria natureza do homem. E se a natureza do homem naturalmente leva ao culto religioso, isso só pode achar sua explicação num ser superior que constituiu o homem um ser religioso (BERCKOF, 2007).

Ainda temos a considerar também que muitos teólogos cristãos têm definido a humanidade como “homo adorans”, ou seja, o homem que cultua, significando assim que o culto a Deus é central para se compreender o ser humano.”

 Se fizermos uma análise histórica, percebemos que desde as primeiras civilizações tais como os Sumérios, os Acadianos, os Caldeus, os Amoritas, os Hebreus e os Egípcios cultuavam algum tipo de divindade(es). O culto estava no centro das atividades destes povos, não era apenas um ato ligado a “esfera religiosa”, mas essencial à vida da comunidade em todos os sentidos. A própria arquitetura das cidades traziam o templo no centro delas, neste local, não tratavam somente de assuntos religiosos, mas a própria administração da cidade estava nas mãos dos sacerdotes.

Mais tarde, com o surgimento e ascensão dos Gregos o cenário não muda muito, apesar de haver uma ênfase dada por eles à filosofia, os deuses não saem da sua cultura. O culto na Grécia consistia geralmente do sacrifício de animais domésticos no altar, em meio a hinos e orações. Partes do animal eram então colocadas sobre as chamas, para os deuses; e os participantes comiam o resto. Karl Meuli afirma o seguinte:

A evidência destas práticas é descrita com exaustão na literatura antiga, especialmente nos épicos de Homero. Ao longo dos poemas, o uso deste ritual fica aparente em banquetes onde carne é servida, em épocas de perigo ou antes de alguma empreitada importante, como meio de se obter o apoio dos deuses. Na Odisséia, por exemplo, Eumeu sacrifica um porco com uma oração por seu mestre, Odisseu, na Ilíada todos os banquetes dos príncipes se iniciam com um sacrifício e uma oração. Estas práticas, descritas em períodos pré-homéricos, apresentam traços em comum com formas de sacrifício ritual do século VIII a.C. ( MEULI, 1946).

Estas situações de sacrifícios nos poemas épicos de Homero podem indicar uma visão dos deuses como membros da sociedade, e não entidades externas, indicando laços sociais com eles. Os sacrifícios rituais desempenhavam um papel crucial na formação de relações entre o humano e o divino. Diversos templos eram erguidos em homenagem aos deuses. Alguns dos mais imponentes e conhecidos eram o Templo de Zeus, em Olímpia, e o Partenon, dedicado à deusa Atena, localizado sobre a Acrópole, em Atenas.

A religião no império romano não se diferenciava muito da dos gregos, a religião na Roma Antiga caracterizou-se pelo politeísmo, com elementos que combinaram influências de diversos cultos ao longo de sua história. Desse modo, em sua origem, crenças etruscas, gregas e orientais foram sendo incorporadas aos costumes tradicionais adaptando-os às necessidades da população. Os deuses dos antigos romanos, à semelhança dos antigos gregos, eram antropomórficos, ou seja, eram representados com a forma humana e possuíam características (qualidades e defeitos) de seres humanos.

O Estado romano propagava uma religião oficial que prestava culto aos grandes deuses de origem grega, porém com nomes latinos, como por exemplo, Júpiter, pai dos deuses; Marte, deus da guerra, ou Minerva, deusa da arte. Em honra desses deuses eram realizadas festas, jogos e outras cerimônias. Posteriormente, diante da expansão militar que conduziu ao Império, muitos deuses das regiões conquistadas também foram incorporados aos cultos romanos, como por exemplo, o culto ao deus persa Mitra, o que incluía a crença em um redentor que praticava o batismo e a comunhão pelo pão e pelo vinho.

Em casa, os cidadãos, por sua vez, tradicionalmente buscavam proteção nos espíritos domésticos, os chamados "lares", e nos espíritos dos antepassados, os "penates", aos quais rendiam culto.

Além disso, havia também o culto ao estado romano representado na figura do imperador.  O culto do imperador não foi estabelecido arbitrariamente. Desenvolveu-se gradualmente da crescente atribuição de honras sobre-humanas ao imperador e do desejo de centralizar nele a obediência do povo. Júlio César foi, depois da sua morte, chamado Divus Julius. Desde o tempo de Augusto, todos os imperadores eram divinizados na sua morte por voto do Senado, posto que alguns não tomassem a honra muito a sério. Calígula ordenou que fosse erigida a sua estátua no templo de Jerusalém, mas como era considerado geralmente um louco, não pôde este seu ato ser considerado como representando a política geral dos imperadores.

Dentre os povos citados acima, existe um deles que se diferenciava dos outros pela sua forma de culto, pois, enquanto que a maioria deles cultuavam vários deuses, os Hebreus (que mais tarde seriam os Judeus) cultuavam apenas um Deus, e por isso eram considerados monoteístas. A diferença básica dos Hebreus para os outros povos, é que estes atribuíam a um só Deus a existência e o controle de todas as coisas e acontecimentos naturais ou sobrenaturais, enquanto que as nações ao redor, consideravam cada coisa ou fenômeno que ocorria entre eles como sendo controlado por um deus diferente. Cada cidade era controlada por um deus. Outro aspecto importante dos Hebreus é que eles adoravam um Deus invisível, indo de encontro a cultura dos povos adjacentes em que a maioria dos deuses eram na verdade figuras super-humanas e limitadas aos sentimentos mais fúteis que o ser humano pode exprimir. Era uma divindade baseada na humanidade.

Os Hebreus acreditavam basicamente em um Deus pessoal e que se relaciona com o seu povo, um Deus amoroso, misericordioso e justo que lhes daria uma terra para viverem em paz. Criam também que Deus criou o homem perfeito, mas este havia caído em pecado, e como consequência disso recebeu a morte eterna. Acreditavam na vinda de um messias que os livraria dos seus pecados, dos seus inimigos, estabeleceria o seu reino e os governaria para sempre num reino de paz. O culto dos Hebreus era baseado basicamente no sistema sacrificial, onde um animal era entregue pelo ofertante ao sacerdote com o intuito de agradar a Deus e receber o seu perdão. Esta oferta não era feita de forma aleatória, seguia um rígido princípio que estava revelado na Lei entregue ao profeta Moisés pelo próprio Deus.

No decorrer da história surge então o cristianismo, que é oriunda do judaísmo. O cristianismo, assim como o Judaísmo, fundamenta-se nos mesmos princípios de um só Deus que é o criador de todas as coisas, um Deus pessoal e que se relaciona com o seu povo, crê também que o homem foi criado perfeito mas caiu em pecado e por isso necessita de um messias para salvá-lo e que este Deus deve ser adorado a partir de princípios estabelecidos nas Escrituras sagradas. O culto cristão no entanto, diferente do judaico, não se baseia no sacrifício de animais como forma de agradar a Deus e conseguir o perdão de seus pecados pois entende que a morte de Jesus Cristo na cruz foi um sacrifício eterno garantindo assim a satisfação da justiça o perdão de Deus para todos aqueles que crêem nele.

Conclusão
Apesar do culto ser um elemento presente na humanidade desde os tempos mais remotos, isso não significa que todos os cultos são válidos, nem que os homens têm o direito de fazê-lo como quiserem. O culto é uma criação divina, e como tal, deve ser realizado conforme ele deseja. Existe somente um Deus verdadeiro e portanto só um culto verdadeiro. E creio que o Deus verdadeiro é aquele revelado na Bíblia. O Deus dos Hebreus, o Pai do Senhor Jesus Cristo.

Cristo é o messias prometido do Antigo Testamento, aquele que veio para salvar o pecador e restaurar todas as coisas, através dele devemos render o nosso culto a Deus, sem a necessidade de sacrifícios de animais ou oferendas, pois ele foi o cordeiro imolado, a oferenda máxima que se entregou em favor de sua Igreja, aplacando assim a ira de Deus contra a humanidade eleita. Este é o Deus verdadeiro, ao qual todos nós devemos render culto. deixemos o próprio Senhor  falar:

Tendo Jesus falado estas coisas, levantou os olhos ao céu e disse: Pai, é chegada a hora; glorifica a teu Filho, para que o Filho te glorifique a ti, assim como lhe conferiste autoridade sobre toda a carne, a fim de que ele conceda a vida eterna a todos os que lhe deste. E a vida eterna é esta: que te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste. Eu te glorifiquei na terra, consumando a obra que me confiaste para fazer; e, agora, glorifica-me, ó Pai, contigo mesmo, com a glória que eu tive junto de ti, antes que houvesse mundo. (Jo 17.1-5)

Soli Deo Glória!

Texto extraido e adaptado da minha monografia: "O culto Cristão Reformado na Perspectiva de Westminster".

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