Por Anderson Borges
Dia desses estava vendo uma postagem de um colega e ex-companheiro de sala de aula do seminário. No referido post, ele tratava sobre a
questão de quem deveria assumir o púlpito da igreja para a pregação. Ele defendia
a posição esboçada nos símbolos de fé de Westminster, e o foco dele era quanto impossibilidade
das mulheres pregarem. Infelizmente meu querido colega foi acusado de
fundamentalista e até judaizante, e o pior de tudo é que não foi por pessoas
leigas ou de outras denominações, mas sim, por pastores presbiterianos. Os argumentos
usados contra o post foram todos baseados na experiência pessoal e não na Escritura Sagrada. Confesso que isso me deixou muito triste e indignado me
encorajando então a escrever este breve post.
A minha intenção aqui será analisar o texto da primeira carta de Paulo a Timóteo no capítulo 2 verso 12 e o que o Catecismo Maior
de Westminster diz em sua pergunta 158. Começemos pelo Catecismo que nos fala o seguinte:
Por quem a Palavra de Deus deve ser pregada?
Resposta: A Palavra de Deus
deve ser pregada somente por aqueles que têm dons suficientes, e são
devidamente aprovados e chamados para o ministério. (WESTMINSTER, 2007).
O entendimento natural do texto do Catecismo é de que só podem pregar a
Palavra de Deus aqueles que foram devidamente chamados ao ministério e que
estes devem ser preparados para tal. Uma distinção que deve ser feita aqui é
que a pregação que o Catecismo se refere é aquela que é feita na igreja local
de forma oficial. Aqueles que não são ordenados ou licenciados podem em
ocasiões especificas e supervisionados pelo ministro e o conselho da igreja pregar
na congregação.
Entendemos também que todo crente é chamado para pregar o
evangelho de forma geral atendendo a ordem do nosso Senhor na grande comissão, quanto
a este assunto o Rev. Paulo Anglada em seu livro “Introdução a Pregação
Reformada” nos diz que:
Isto não significa que os crentes de modo geral
não possam evangelizar e testemunhar da esperança que neles há, individual e
informalmente. É dever de todo crente estar preparado para explicar as razões
de sua fé (1 Pe 3:15). Também não significa que não possam instruir-se,
aconselhar-se, exortar-se, encorajar-se e confortar-se mutuamente. (ANGLADA, p.
87).
Ainda tratando deste assunto o grande teólogo Charles
Spurgeon em seu opúsculo “O Chamado Para o Ministério” afirma que:
Todo cristão capaz de disseminar o evangelho
tem direito de fazê-lo. Ainda mais, não só tem direito, mas é seu dever fazê-lo
enquanto viver. (Ap. 22:17). A propagação do evangelho foi entregue, não a uns
poucos, mas a todos os discípulos do Senhor Jesus Cristo. (SPURGEON, p. 01).
Devemos entender que existe uma clara distinção entre
pregar a Palavra de Deus oficialmente na congregação e a nossa obrigação de
pregar o Evangelho a toda criatura.
A pregação oficial da igreja deve ser feita somente por homens
que foram chamados e capacitados para essa sublime tarefa. Gostaria de colocar
aqui o comentário do teólogo Geerhardus Vos ao Catecismo Maior de Westminster que
nos ajuda no entendimento da pergunta do Catecismo, ele afirma o seguinte:
Claro está que a pregação da Palavra é uma obra
de importância muito grande. São necessárias as qualificações apropriadas para
que seja feita da maneira adequada. Há qualificações espirituais, intelectuais
e educacionais sobre as quais se deve insistir para que a igreja tenha um
ministério adequado... um homem incapaz de pensar corretamente, incapaz de
detectar a falácia de um argumento perverso, é passível de ser ele mesmo
desviado por um falso ensinamento e, por sua vez, capaz de desviar outros. Um homem
a quem falta educação geral e teológica normalmente não será capaz de fazer
justiça a grande obra de pregação da Palavra de Deus e correrá o perigo de
pregar uma mensagem desequilibrada ou parcial. Quando Deus chama um homem para
a obra do ministério, também o aparelha com as habilidades e qualificações
necessárias para que possa realizar a obra adequadamente. (VOS, p. 508-509).
Devemos deixar claro também que existem casos em que Deus
pode chamar homens que não tenham um nível escolar alto ou até mesmo nenhum tipo
de educação formal. A própria Escritura nos mostra que alguns discípulos de
Cristo não tiveram instrução formal mas foram chamados ao ministério. Tratando
deste assunto, Geerhardus Vos nos auxilia mais uma vez no seu comentário do
Catecismo quando diz:
Eles, no entanto, gozaram da inestimável
vantagem de passarem três anos na companhia de Jesus sob a sua instrução
pessoal. Deus as vezes chama para o oficio ministerial um homem com pouca ou
nenhuma educação formal e nesses casos excepcionais, onde está evidente a
chamada divina, a igreja não deve hesitar em ordenar o candidato. (VOS, p.
508).
Apesar de Deus chamar alguns que não são dotados de
educação formal, o próprio Vos nos diz que “não
se deve permitir que a exceção torne-se regra”.
Mas fica ainda a questão das mulheres, afinal elas podem ou
não pregar na igreja? Creio que tanto as Escrituras como o Catecismo Maior de
Westminster deixam claro que as mulheres não devem pregar na congregação, nem
mesmo em ocasiões especificas. O grande princípio por trás destas afirmações é
a idéia do chamado. O ensino das Escrituras demonstram que o chamado para o
ministério é exclusivamente masculino. Gostaria de citar mais uma vez o Rev.
Paulo Anglada que afirma:
O requisito fundamental para o pregador, na
concepção reformada, é a comissão. A pregação pública do evangelho é tarefa primordial
dos ministros da Palavra, isto é, de homens chamados por Deus, reconhecidos
como tais pela igreja, e ordenados por imposição de mãos de um presbitério para
o oficio. (ANGLADA, p. 86).
Charles Spurgeon mais uma vez nos ajuda quando diz:
Todavia, o nosso serviço não assume
necessariamente a forma particular de pregação. Seguramente, em alguns casos é
preciso que não, como por exemplo no caso das mulheres, cujo o ensino público é
expressamente proibido: 1 Tm. 2:12; 1 Co. 14:34. (SPURGEON, p.01).
As mulheres não podem assumir a pregação em nossas igrejas
não é por falta de capacidade intelectual ou alguma deficiência que as possam
impedir, mas por um princípio bíblico, a mulher não foi chamada para o
ministério. João Calvino em seu “Comentário das cartas Pastorais”,
especificamente o texto da primeira carta a Timóteo no capítulo 2 verso 12, nos
diz como se segue:
Paulo não está falando das mulheres em seu
dever de instruir sua família; está apenas excluindo-as do oficio do sacro
magistério, o qual Deus confiou exclusivamente aos homens... se alguém desafiar
esta disposição, citando o caso de Débora (Jz. 4.4) e outras mulheres sobre
quem lemos que Deus, em determinado tempo, as designou para governar o povo, a
resposta óbvia é que os atos extraordinários de Deus não anulam as regras
ordinárias, as quais Ele quer que nos sujeitemos... a razão por que as mulheres
são impedidas consiste em que tal coisa não é compatível com o seu status, que
é serem elas submissas aos homens, quando a função de ensinar subentende
autoridade e status superior. (CALVINO, p. 70-71).
Ainda quanto a este tema o grande comentarista bíblico
William Hendriksen comentando o mesmo texto de 1º Timóteo supracitado afirma o
seguinte:
Embora estas palavras possam soar como pouco
amistosas, na verdade são precisamente o oposto. Aliás, expressam o sentimento
de terna simpatia e de compreensão básica. Significam que a mulher não deve
entrar na esfera de atividade para a qual a força de sua própria criação não é
apta. Que a ave não tente viver debaixo d’água. Que o peixe não tente viver em
terra seca. Que a mulher não queira exercer autoridade sobre o homem,
instruindo-o nos cultos públicos. Por amor a ela e para o bem-estar espiritual
da igreja, proíbe-se esta pecaminosa intromissão na autoridade divina.
(HENDRIKSEN, p. 139-140).
Apesar de alguns tentarem distorcer ou ignorar o texto
bíblico e dos símbolos de fé de Westminster, percebemos que estes são claros em
afirmar que só quem pode assumir o púlpito das nossas igrejas são homens
devidamente chamados para o ministério. Em determinados casos homens que ainda não estejam ordenados podem pregar publicamente a Palavra de Deus tutelados
pelo ministro e pelo conselho da igreja. Deixo claro que não há aqui nenhum
entendimento de que as mulheres não são capazes para tal, ou que elas não têm
importância na igreja, mas sim, que elas não foram chamadas para o ministério
da Palavra. As mulheres sempre tiveram um papel importante na igreja do Senhor
e ainda o tem. Mas a pregação oficial do evangelho foi reservada aos homens que
foram chamados para tal.
Tenho visto que muitos ministros em busca de tentar
contextualizar as suas congregações acabam caindo no velho erro do pragmatismo e acabam por mundanizar a
igreja local. Nós não devemos ser guiados pelos paradigmas da sociedade, nem por nossas experiências pessoais, antes pela
única regra de fé e prática da verdadeira igreja cristã, as Escrituras
Sagradas.
Soli Deo Glória!!
Reverendo este pensamento não é a posição oficial da IPB, mas de ministros que fazem parte da IPB. Nós preparamos e enviamos missionárias.
ResponderExcluirOlá Reverendo! Eu falo de mulheres que pregam oficialmente na igreja. No culto público. Nesse caso sou contra. Nao vejo apoio bíblico para tal. Apesar da IPB preparar missionárias penso que elas não deveriam assumir a pregação oficial.Mas entendo que o caso precisa ser tratado com mais delicadesa.
ExcluirParabéns, Rev. Anderson. Fico imensamente feliz em ver sensatez bíblica e firmeza doutrinária em um jovem ministro da Palavra e dos Sacramentos. Sem excessos e com sobriedade.
ResponderExcluirObrigado Emerson por suas palavras de encorajamento! Deus o abençõe ricamente.
ExcluirQual o livro do Spurgeon que foi retirado essa citação " Todavia, o nosso serviço não assume necessariamente a forma particular de pregação. Seguramente, em alguns casos é preciso que não, como por exemplo no caso das mulheres, cujo o ensino público é expressamente proibido: 1 Tm. 2:12; 1 Co. 14:34. (SPURGEON, p.01)." ???
ResponderExcluirGrata
Olá. Desculpa a demora. A citação é do livro: O Chamado para o Ministério da editora PES.
ExcluirSou O PR.ANDERSON SENA e concordo piamente com a exposição feita acerca desse assunto que é tão claro nas Escrituras.Parabens
ResponderExcluirObrigado meu irmão! Deus te abençoe ricamente!
ExcluirSinto muito em dizer querido Reverendo, pois discordo do senhor, conheço a IPB de norte a sul, trabalho em campo missionário e já vi mulheres extraordinários realizando a obra do Senhor. Sinto-me um ato extraordinário de Deus, pois Ele me chamou me capacitou e continua me capacitando para pregar o evangelho onde Ele me enviar.
ResponderExcluirTrabalho com formação de líderes: crianças, adolescentes, jovens, mulheres e homens.
Sou formada no IBN/CPO e curso Teologia na FTSA.
Deus realizou atos extraordinários e continua realizando hoje e realizará no futuro.
Sou casado com um reverendo e em nenhum momento sou insubmissa por pregar ou ensinar na igreja.
Confere em Princípio de Liturgia capitulo III artigo 7º e 8º página 136 Manuel Presbiteriano com Jurisprudência e Apostila de Liturgia do Rev. Onésio Figueiredo (secretário de Educação Cristã) página 2 "Direção do Culto" 3º Parágrafo.
Missionária Cleidiana Rocha Silva Santos